sábado, 21 de março de 2015

O email que nunca seguiu...


Há já alguns dias que não escrevo. Foram umas semanas intensas em termos emocionais e decidi que o meu próximo post seria dedicado a um amigo que infelizmente partiu cedo demais… Mas não tem sido fácil fazê-lo…

Tinha recebido há poucos dias um email dele a dar-me força num projeto do qual também fazia parte (o teatro de pais) mas que infelizmente este ano, por questões profissionais,  apenas acompanhava à distância. Recebi o email, adorei e pensei: “tenho de lhe responder a agradecer!”… Mas não respondi… Poucos dias depois recebi a fatídica notícia… e doeu muito!  Muito mesmo!

Não que este amigo fosse presença assídua de minha casa por exemplo, ou que nos conhecêssemos há 20 anos, mas não era preciso pois o carinho que lhe tenho é enorme, o respeito que lhe tenho é gigante… E foi preciso muito pouco para que este sentimento crescesse.

O Carlos foi personagem principal de uma das peças que encenei no grupo de teatro de pais, um desafio enorme para ele porque não tinha qualquer experiência e o papel exigia muito. Confesso que no início duvidei… Mas o Carlos ensinou-me ensaio após ensaio que o esforço e a motivação moviam montanhas… Foi um trabalho árduo dos dois, mas maravilhoso e muito compensador!  Ver o meu capitão tão fantástico, tão real, tão entregue às crianças e ao grupo mostrou-me que o amor, a entrega e o esforço constroem magia e tornam o difícil fácil e o impossível possível.

O sorriso do Carlos, a forma como acolhia todos era única e tão natural que qualquer pessoa que teve a sorte de se cruzar com ele ficou “contaminada” pela sua bonita forma de ser…

E para quê esta descrição toda de uma pessoa que a maior parte de vós não conhece? Porque o Carlos partiu cedo demais… Como qualquer pessoa pode partir, sem aviso, sem que ninguém espere, de uma forma até esmagadora!

O Carlos viveu a sua vida e marcou a sua presença. Deixa saudade e muita! E isto leva-me a pensar se andamos a aproveitar cada bocadinho da nossa existência na terra, ou perdemos tempo demais com coisas que não têm importância nenhuma? Digo aos meus filhos que os amo todos os dias, ou preocupo-me mais se eles estão a demorar muito a comer o pequeno almoço? Dedico o pouco tempo que tenho com a minha família a estar com eles a 100% ou estou preocupada com as chatices no trabalho, ou com a irritação que me provoca ter o quarto dos miúdos desarrumado?

Naturalmente, todas as coisas no nosso dia-a-dia têm a sua importância, e o facto de acreditar que devemos viver intensamente, não me torna uma anárquica que tem a casa desarrumada, que não faz planos, que não se preocupa com o dia de amanhã. Claro que me preocupo!!! Preocupo-me com o amanhã! Continuo a tentar controlar as coisas que me rodeiam, mas também sei que estou a viver intensamente e aproveitando o que me é dado!

O Carlos partiu cedo demais, deixa muita saudade imensa e tocou a vida de todos os que o conheceram… Carlos foi uma honra conhecer-te! Até sempre!

sábado, 7 de março de 2015

" Não consigo "

Todos temos limites... É um facto inegável! Todos chegamos a um ponto em que não conseguimos mais e nesse ponto dizemos "Eu não consigo". Mas na verdade detesto esta expressão! Limita-nos, restringe-nos, acomoda-nos!

Cá em casa os meus filhos estão quase proibidos de a dizer. Podem dizer "não estou a conseguir" mas o "não consigo" não. Podem achar que é uma tontice, até porque há coisas que eventualmente não conseguimos mesmo, mas ainda que isso seja um facto nada me deve impedir de tentar. Se eu assumir que não consigo uma qualquer coisa, não me vou obrigar a tentar e até, quem sabe, a conseguir.

Nestes últimos meses em que fui sendo posta à prova dia a dia, em que as dores são imprevisíveis e muitas vezes insuportáveis, tenho a tentação de muitas vezes dizer que não consigo, que não tenho força, mas não me permito isso! Não me permito exigir pouco de mim! A fasquia tem de estar sempre alta, porque assim sei que vou conseguir mais, ainda que não consiga tudo.

E isto deve ser em tudo da nossa vida! As desculpas que muitas vezes arranjamos para a nossa vida, para a nossa rotina, podem estar a limitar-nos e a impedir-nos de fazermos coisas que nos fazem bem e nos fazem felizes. Ainda que tenhamos limitações devemos tentar sempre mais... Sempre!

Esta semana, no meu treino de PT, tive uma dor insuportável na cabeça. Uma dor que me deitou completamente abaixo, física e mentalmente. Sentir-me limitada é terrível. Sei que tenho limites e que os tenho de respeitar e sei que tenho de ser responsável com a minha saúde, mas sentir que o corpo não acompanha a vontade irrita-me! A minha fantástica PT, como profissional responsável que é aconselhou-me a parar, mas eu teimosamente não quis e fiz mais uma série... Foquei a minha energia nos músculos e na minha vontade de contrariar a minha limitação. Foquei a minha energia em tudo o que tenho passado e que não deixo que me deite abaixo. Parar talvez tivesse sido o mais sensato, mas eu precisava de me superar, de dizer aquela maldita dor que não me controla, não manda em mim, nem na minha força, e que quem controla a minha vida sou eu! Agradeço à minha PT porque respeitou a minha teimosia e porque apesar de achar que eu sou meia doida ainda me motivou a acabar a série com energia.

É disso que preciso, de pessoas à minha volta que puxem por mim, que me motivem a continuar e a avançar! Pessoas tão "loucas" como eu que simplesmente não aceitam o "não consigo".

Um destes "loucos" é o meu marido. Foi a sua determinação e a forma como puxou por mim, pela minha força e pela minha fé que me fez confiar e aceitar. Que me ajudou a levantar quando me fui (e ainda vou) abaixo. Que me respeitou quando me apanhava a chorar sozinha, mas também não me deixava ali a deprimir.

Todos temos limites é certo! Mas podemos (e devemos) tentar superá-los...



quarta-feira, 4 de março de 2015

Hoje estou cansada...

Hoje estou cansada... melhor, hoje estou exausta!

Há dias assim, em que o cansaço é tão grande e forte que me põe de joelhos, sem força para me levantar...

Estou cansada de tanta coisa... Estou cansada das minhas dores... Estou cansada de não conseguir fazer tudo o que quero e preciso fazer... Estou cansada de dizer tantas e tantas vezes ao meu Diogo para não meter as mãos na comida, e na refeição seguinte lá está mais uma vez a mão...
Estou cansada de dizer mil vezes a mesma coisa ao meu filho mais velho e ele por outras mil volta ao mesmo... Estou cansada de tentar incutir nele um espírito de responsabilidade e chegar à conclusão que é uma tarefa que roça a missão impossível... Estou cansada de não me conseguir segurar nas minhas reações e passar-me com ele quando pela enésima vez faz o mesmo disparate, faz a letra ilegível, erra o mesmo problema, responde sem pensar... E o pior é que o cansaço é tanto que acabo por ter reações tão exageradas por coisas com tão pouca importância...

Hoje no meio do estudo, já  depois de me ter passado com mais uma irresponsabilidade dele ( com muita importância) e depois de eu já estar a deitar fumo pelos ouvidos, zanguei-me e diz ele "precisas de te zangar assim porque fiz mal o s"... E tinha toda a razão! Era só um s... Mas o acumular de cansaço e de disparate era tanto que acho que a minha racionalidade estava muito perto da de uma minhoca...

Estou mesmo cansada... Cansada de estar cansada... Há mesmo dias assim, em que me pergunto se estamos a fazer bem, ou o que poderíamos fazer mais ou diferente, mas o cansaço é tanto que nem consigo ter novas ideias, novas estratégias...

O que me vale é que este cansaço destrutivo só me acontece à noite, e aí entrego-me ao único remédio que conheço para este cansaço: uma boa noite de sono.

E antes de encostar a cabeça na almofada, confio na certeza de que amanhã vai ser muito melhor e vou estar novamente com a mesma vida que me caracteriza!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Ciúmes entre irmãos

Pediram-me que escrevesse um testemunho sobre o ciúme entre irmãos. Partilho convosco o meu testemunho:

Foi quando fiquei grávida do meu 2º filho que pensei mais profundamente sobre o ciúme entre irmãos. Tenho dois irmãos e não me lembro de sentir ciúmes deles, eventualmente até poderei ter sentido, mas não foi nada muito importante pois não faz parte da minha memória. E assim queria que os meus filhos vivessem a fraternidade, sem ciúmes, aceitando-se mutuamente e respeitando a individualidade de cada um.

No entanto, o receio de que o nosso filho, que uns meses depois se tornaria o mais velho, não aceitasse a nova realidade de uma forma pacífica surgiu na minha cabeça e naturalmente em casal.

Quando nasce um mano, o filho mais velho tem de aprender a dividir o espaço, as coisas, e mais importante a atenção dos seus pais e estas aprendizagens podem não ser pacíficas, mas para isso os pais têm um papel fundamental!

O nosso filho mais velho participou em tudo o que tinha a ver com a chegada do mano, desde a escolha do nome, preparação do quarto, a compra de roupinha. Sentiu-se importante e sentiu que a chegada do mano era uma novidade muito boa!

E efetivamente a chegada do mano correu lindamente! Houve um momento de nervosismo sim, um momento em que todas as imagens que o meu pequeno tinha criado do irmão foram confrontadas com a realidade e esse momento pode não ter sido fácil, mas foi mesmo isso… um momento só!

Eu e o meu marido fizemos um esforço muito grande em dividir as atenções pelos dois pequenos seres, eventualmente até dando mais importância ao mais velho, pois este tinha mais perceção enquanto o bebé ainda só precisava que lhe satisfizessem as necessidades básicas.

Lembro-me que logo quando me foi possível, dediquei um dia inteiro apenas ao mais velho, fomos passear, fizemos o que mais gostava e isso fê-lo perceber que não tinha perdido nada com a chegada do mano. 

 Atualmente que já são três, não sinto que os meus filhos tenham ciúmes uns dos outros. Esforçamo-nos por dar igual atenção a todos, apesar de terem todos personalidades muito diferentes e necessidades diferentes também. Se o mais velho precisa de acompanhamento nos trabalhos de casa, de seguida ajudamos o do meio a fazer um desenho ou brincamos com a pequenina. Esforçamo-nos para que sejam amigos, saibam partilhar e aceitar-se na sua individualidade e diferença. Há dias em que não é fácil, em que embirram uns com os outros, em que o mais velho aborrece o do meio até à exaustão e este acaba por se zangar com o irmão. Mas como tudo em educação, este é um caminho que se faz dia-a-dia, situação a situação. E a responsabilidade maior é nossa, dos pais. Nós devemos ser os primeiros a não fazer distinções, não fazer comparações, não deixar que outros o façam, ainda que sem intenção, devemos responder de forma igual a todos. Ainda que não seja fácil, ainda que haja dias em que estejamos cansados, este foi o desafio que aceitámos quando nos tornámos pais e é a esta vocação que temos de responder sempre, todos os dias, com toda a alma, cabeça e coração.